3º Encontro Brasileiro de Autos Antigos – Águas de Lindóia, SP
Lindóia é uma festa!
Mais uma vez, entusiastas dos quatro cantos do país se reuniram na ‘Capital Brasileira do Automóvel Antigo’
[dropcap]P[/dropcap]arafraseamos Hernest Hemingway para dar título a essa cobertura, pois ela define bem o espírito que impera na ‘cidade que é sinônimo de carros antigos’. Todo ano, sempre no mês de abril, todo antigomobilista brasileiro deseja estar lá. Gente de toda parte do país, como os heróicos maranhenses e piauienses que percorreram cerca 3 mil quilômetros a bordo de seus automóveis antigos, como Wilson Nunes Brandão que com sua Rural 1973 representou o comboio de Teresina na homenagem especial realizada durante a Cerimônia de Premiação. Ou a turma animada do Veteran Car Clube de Novo Hamburgo que todos os anos parte em excursão com o ônibus próprio do clube e literalmente acampa no evento, percorrendo mil e trezentos quilômetros.E pouco importa que nome o evento tenha. Para eles é o “Encontro de Lindóia”, mesmo que este seja na verdade o nome da cidade vizinha à Águas de Lindóia, e que não tenha nada a ver com o evento. Por falar em cidade, esse é outro aspecto: a importância que o encontro de automóveis antigos tem para Águas de Lindóia: do grande comerciante ao condutor de carrinhos infantis pelas alamedas da praça, do Prefeito Antonio Nogueira ao garçom do hotel, todos reconhecem que a cidade e arredores não podem ficar sem ele, pois já se tornou o maior acontecimento do calendário municipal.
Este ano, o Encontro Brasileiro de Autos Antigos (que agora entrou para o Calendário Turístico do Estado de São Paulo) aconteceu entre os dias 21 e 24 de abril e contou com a participação de 660 veículos em exposição, sem contar os que estavam a venda, num espaço dedicado exclusivamente a isso. Centenas de estandes vendiam peças novas e usadas, acessórios, pneus, rádios, produtos de vestuário, miniaturas, antiguidades e tudo mais relacionado a esse hobby que a cada dia ganha mais adeptos, principalmente os mais jovens, em plena era da tecnologia…
A presença de público foi maciça, como em anos anteriores — principalmente nas tardes do feriado de quinta-feira e de sábado. Mas na noite de quinta-feira — à véspera da abertura oficial — já houve programação social: um churrasco de confraternização no Espaço Burle Marx exclusivo para os comerciantes de peças e antiguidades. Por volta de 500 pessoas se divertiram ao som da Banda Red Jacks, que tocou muito rock’n roll.
Abertura com autoridades estrangeiras
Destaques dos classificados
A solenidade de abertura aconteceu na tarde de quinta-feira (21) e contou com as presenças internacionais do Presidente da Fédération Internationale des Véhicules Anciens (FIVA), Patrick Rollet; do Embaixador da FIVA para a América Latina, Alec Daly; dos representantes da FIVA no Uruguai, Carlos Scoseria; e na Argentina, Juan Ranwez. Eles estiveram em visita ao Brasil a convite do presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), Roberto Suga, que também esteve presente à solenidade, ao lado Deputado Estadual Itamar Borges; do Prefeito de Águas de Lindóia, Antonio Nogueira; e de Mingo e Junior Abonante, organizadores do evento.
O presidente da FIVA proferiu uma palestra na manhã de sábado (23), onde falou sobre o trabalho da FIVA, entidade máxima do antigomobilismo mundial, que agrega filiados de 64 países. A cobertura deste evento paralelo você acompanha aqui no Portal Maxicar.
Bird & Wilsinho
“As melhores histórias e estórias do automobilismo brasileiro” foi a palestra e bate-papo apresentados por duas queridas e famosas figuras das pistas: os eternos pilotos Bird Clemente e Wilson Fittipaldi Jr. Companheiros dos tempos da Equipe Willys de Competições, nos anos 1960, os dois ases lembraram fatos daquela época e também mais recentes. Bird manteve o foco na trajetória de Wilsinho, que se emocionou ao falar da Equipe Copersucar- Fittipaldi, fundada por ele e pelo irmão Emerson. Foi a primeira equipe sul-americana de Formula 1, tendo participado dos campeonatos de 1975 a 1982. Seu melhor resultado foi um segundo lugar de Emerson Fittipaldi no Grande Prêmio do Brasil de 1978.
Bird contou aos espectadores também como nasceu a famosa fabrica dos Volantes Fórmula 1, o primeiro empreendimento dos irmãos Fittipaldi. Segundo ele, uma ocasião ele foi à França conhecer os esportivos Alpine, modelo com o qual iria correr futuramente. Chamou a atenção dele o tamanho do volante — bem menor que os usados nas pistas brasileiras. Bird então trouxe um para o Brasil, no intuito de ir se adaptando com sua pegada. O mesmo foi pedido emprestado por Wilsinho, que tratou de copiar as suas formas. Os volantes Fórmula 1 equiparam os GT Malzoni e os primeiros Puma e era também vendidos como acessório, tornando-se uma febre entre a rapaziada da época. Seu emblema foi criado por ninguém menos que Anísio Campos.
Wilson Fittipaldi Jr. contou também que é um antigomobilista ‘de carteirinha’, já tendo tido uma coleção de 32 Mercedes-Benz.
Exclusivo para elas
“Feriado Cheio de Graxa” — entre batons e salto alto” foi o sugestivo nome do workshop ministrado por Thais Roland só para elas na manhã de sexta-feira (22). A especialista passou às mulheres sua experiência em mecânica, provando que esse não é um assunto só para os marmanjos.
Sociais
Na noite de quinta-feira (21) expositores e convidados participaram do descontraído Welcome Drink , no Salão Ônix, no andar térreo do Hotel Monte Real. A festa principal aconteceu no dia seguinte, com a Noite Italiana, que lotou o Salão Imperial do Hotel Monte Real. O clima para lá de romântico foi embalado pelos hits italianos apresentados pelo cantor Tony Angeli. Muita dança de rostinho colado e olhares apaixonados.
Shows
Nos quatro dias de evento, várias apresentações musicais ao ar livre. Durante a cerimônia de abertura, o Coral Veredas/Bioleve cantou músicas clássicas e populares. Sexta-feira (22), três atrações: show acústico “Os melhores do Rock” com a Banda Red Jacks; Amantes do Choro e “Elvis Tribut Artist” com Fabiano Feltrin, que chegou a bordo de um reluzente Cadillac Conversível vermelho 1954, ao melhor estilo Elvis Presley, que era colecionador da marca. Para terminar, sábado foi a vez dos sertanejos Raffa & Robson, no Espaço Hot Rods.
Os americanos
Automóveis do mais alto nível ornaram os jardins da Praça Adhemar de Barros. O mais antigo deles, um Cadillac 1916 pertencente ao Museu Jorm, de São Paulo. O luxuoso carro foi premiado na Categoria Vintage e teve que ser empurrado até o Espaço Burle Marx para a cerimônia de premiação, embora estivesse funcionando perfeitamente no dia anterior. E os apaixonados por esse eterno top de linha da GM puderam apreciar vários outros exemplares, fabricados entre as décadas de 1950 e 70, como o chamativo Eldorado 1957 e o DeVille 1960.
Porém, a ‘concorrente’ Lincoln não deixou por menos, com seu Continental Conversível 1948 equipado com um silencioso motor de 12 cilindros em linha. E ainda um Continental Mark V 1973 e um Continental Town Coupe 1978.
Magníficos exemplares representaram os automóveis americanos mais sofisticados de marcas já extintas, das décadas de 1920 e 30: Hupmobile Phanton 1923, Stutz Sedan 1930 e Cord 812 1937. Todos devidamente agraciados com troféus.
Foi bastante expressivo o número de Chevrolets. Entre produzidos nos anos 1950, destacamos a Townsman 1955, uma Station Wagon baseada no sedan intermediário 210. Da década seguinte os Impalas 1960 e 61 fizeram a alegria dos amantes dos clássicos de ‘gravatinha’. E também derivada deles havia uma SW, fabricada em 1964. Sem falar nos Corvettes de gerações diversas.
A quantidade de Fordinhos Modelo A originais foi um pouco reduzida este ano. No entanto, havia exemplares mais modernos da Ford americana como os conversíveis Thunderbird 1957 e Sunliner 1961 e os esportivos Mustang, tendo sido premiados Fastback verde 1967, o ‘street’ 1968 e o Mach1 vermelho 1973.
A coleção de Studebakers de Mário Ferreti — com carros de passeio e pick-ups — recebeu o ‘reforço’ do Sedan 1947 de Paulo Roberto dos Reis e do Commander 1952 de Telmo Fagundes.
Mopars daqui e de lá
Como em edições anteriores, não houve distinção entre Mopars americanos e brasileiros, que ficaram misturados em um mesmo setor. Entre os ‘de lá’ maravilhosos Charger R/T 1972, Dodge Polara (beeem maior que o nosso) Conversível 1967, Dodge Dart GT Conversível 1968 (uma exclusividade deles), Plymouth Road Runner 1969 (aquele do Papa-léguas), Plymouth GTX 1970 e até um Chrysler Newport 1976 estilizado de Railway Patrol, com direito até à inscrição lateral “To protect and to serve”. A patrulha foi importada recentemente, já com essas características.
Os ‘de cá’ estiveram em menor número, mas não menos incríveis. Os Chargers R/T 1971 laranja e 1972 branco são tão perfeitos que os jurados acharam impossível escolher qual o melhor. Resultado: ambos foram premiados na categoria “Milagre Brasileiro”. Dart Sedan 1970, Dart Coupe 1975 e Magnum 1980 também foram agraciados com troféus de destaque.
Caminhonetes
Outra categoria ‘junta-e-misturada’ foi a de pick-ups, com as nacionais Ford F100, Chevrolet C10, Chevrolet Brasil, Willys/Ford F75 e as utilitárias Veraneio, dividindo o mesmo espaço com as americanas Ford F1, Ford F100 e Chevrolet 3100 versões ‘Boca-de-Sapo’ e ‘Boca-de-Bagre’. De cair o queixo a pick-up ‘de passeio’ El Camino derivada do Impala 1960.
Pesos-pesados
Dando às boas vindas aos visitantes, os pesos pesados ladearam a rua principal. O maior colecionador de FNMs do Brasil, Osvaldo Strada, levou quatro exemplares de seu acervo, todos impecavelmente restaurados. A GMC foi representada pelos modelos 660 e 930 1957, e 9500 1974. Os gigantes Peterbild fizeram ‘apresentações performáticas’ durante todo o final de semana, com muitas luzes multicoloridas e sons de músicas, motores e buzinas com vários decibéis acima dos limites razoáveis.
Ônibus não foram muitos. Destacamos o urbano Carbrasa 1962. Muito raros e pouco conhecidos, os Carbrasa foram fabricados na década de 1960 e utilizavam chassis e mecânica Chevrolet, algo pouco usual. A fábrica ficava no Rio de Janeiro e o fundador da empresa, Mário Sterka, foi também diretor da Volvo do Brasil nos anos 1940.
Os Europeus
As duas Ferraris Dino GT4 1975 — uma vermelha e uma branca — premiadas foram apenas dois dos muitos europeus presentes ao Brasileiro 2016. Porsches 356 e 911; Renault 4CV 1954, o famoso “Rabo Quente”; Ford Taunus 1958; MGs TC 1948 e MGB Conversível 1970; Fiat 1500 1966; Citroëns DS21, DS23, 2CV, Traction Avant (incluindo a rara versão alongada 11 Familiale); BMWs 2000 e 1600 GT, ambos fabricados em 1968, Isettas 300 e um raríssimo Dixi Ihle Typ 600 1928, o modelo que marcou o lançamento da inconfundível grade bi-partida da BMW e do qual restam míseros sete exemplares em todo o mundo.
Não faltou nem mesmo um representante dos tempos do Muro de Berlim: um pequeno Trabant T-601S 1971 fabricado na extinta Alemanha Oriental, com sua carroceria de plástico e motor com parcos 28hp.
Mavecos e outros nacionais
Passou de 40 o números de Mavericks em Águas de Lindóia este ano. Desses, 21 pertencem ao colecionador José Roberto Vaz, da Cral Baterias, uma das patrocinadoras do evento. Mas surpreendeu não apenas a quantidade, mas também a qualidade dos ‘mavecos’ e a variedade de versões. A maioria era da esportiva GT (de 4 e 8 cilindros). Mas havia também Sedans, uma SW — que era transformada pela Concessionária Ford Souza Ramos — e dois americanos, ambos produzidos em 1973.
Opalas foram cerca de 25. Das mais diversas versões. E o original premiado foi o Standard 1970 4 cilindros, de Rodolfo Monteiro, do Opala Clube do Rio de Janeiro. O carro foi eleito não apenas pelo excepcional estado de conservação e originalidade, mas também por ser totalmente monocromático, com carroceria e interior vermelhos.
Quem gosta e conhece os Volkswagens refrigerados a ar (Fusca e seus derivados), sabe que o VW 1600 S — apelidado pela própria fábrica de “Bizorrão” — é um modelo muito raro, já que foram fabricados pouco mais de 5 mil unidades entre 1974 e 75. Encontrar um ou dois exemplares nos encontros de carros antigos não é algo muito fácil. Imagine encontrar 12! Pois é: havia uma dúzia deles em Águas de Lindóia este ano. Mas essa quantidade não foi obra do acaso: os proprietários possuem um grupo nas redes sociais e combinaram de se encontrar por lá. Veio ‘Bizorrão’ de São Paulo, de Santa Catarina, do Paraná… A família de Dreisson Salto Massarente, de Catanduva-SP é muito fã da versão. O primeiro foi comprado quase zero km e foi usado para ir ao sítio por anos a fio. Até que os Massarente passaram a encarar o Besouro vermelho com outros olhos e a trata-lo com peça de coleção. Daí veio o amarelo e depois o branco. Todos presentes em Águas de Lindóia.
Em menores números, havia ainda Pumas GTE, GTS, GTB e P018; Simca Chambord, Aero Willys e Rural, Corcel, Fiats 147, Variant, TL, SP2, Karmann Ghia, Kombi, Galaxie, Gordini, MP Lafer…
Customizados
O espaço dos Hot Rods fez muito sucesso entre o público visitante. Carros muito bem customizados, alguns com carrocerias autênticas principalmente das décadas de 1920 e 30, e outros construídos a partir de kits de fibra de vidro.
Na categoria Modificados foram premiados 18 veículos, entre pick-ups e automóveis. Em grande evidência, por sua características únicas, o Ford equipado com dois motores V8, que geram 800cv. Como consequência, o conversível de design bastante fora do comum possui tudo em dobro: caixa de câmbio, tanque de combustível, eixo cardã e diferencial.
Os eleitos
A cerimônia de premiação aconteceu na noite de sábado (23). Foram eleitos os 105 automóveis de maior destaque, alguns deles já citados nessa cobertura. Os troféus foram entregues por Mingo Abonante (organizador do evento), Bird Clemente, Wilsinho Fittipaldi e pelos representantes estrangeiros da FIVA.
Veja as fotos de todos os premiados e seus respectivos proprietários.
A comissão julgadora não deu bola para:
- Fiat NSU 1961 — Esportivo com mecânica Fiat e design Pininfarina, fabricado na Alemanha pela NSU. Foram fabricados menos de 400 na versão Coupê. Único no Brasil, raro inclusive na Europa.
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Dodge Charger (sem ‘R/T’) – Versão fabricada somente em 1970 e 71 é mais espartana que o R/’, sendo igual a ele externamente, exceto pela ausência das faixas esportivas. No entanto, era equipado com banco inteiriço e cambio na coluna de direção, como na linha Dart. O motor contava com 10 hp a menos. Podia vir com calotas, no lugar das rodas esportivas. Vendeu pouco e por isso hoje é raríssimo.
- Shark 1970 – Um esportivo nacional que foi tema de revistas especializadas na época de seu lançamento. Foi anunciado como projeto brasileiro, no entanto era cópia do fora-de-série Avenger GT-12. O fato gerou certa polêmica na época, o que prejudicou o projeto. A receita era a básica da época: carroceria em fibra de vidro e chassi e mecânica VW a ar. Algumas unidades foram vendidas prontas e em forma de kit. Este carro em exposição em Águas de Lindóia é o exemplar SRK-0001 e foi restaurado pela própria Família Trivelato, a responsável pelo projeto, a qual ele pertence.
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Nissan Datsun 280Z 1976 – O único carro japonês que vimos no evento. O Datsun 280Z foi um esportivo barato se comparado a outros modelos, lançado pela Nissan nos anos 1960, de olho o mercado norte-americano. O carro tem cambio automático e motor 2.8 de 6 cilindros com cerca de 170cv.
O The Best in Show 2016
O grande vencedor do 3º Encontro Brasileiro de Autos Antigos foi o Alfa Romeo 6C 2500 Boneschi 1950. Trata-se possivelmente do único exemplar deste modelo em todo o mundo, já que apesar de vários 6C 2500 terem sido fabricados, a maioria recebeu carrocerias Pininfarina e Touring, e apenas 3 a carroceria Boneschi.
Nós do Portal Maxicar tivemos a oportunidade de conhecer este carro em 2009, por acaso, na oficina do restaurador Ely Gonzaga, de São João Del Rey – MG. Havíamos ido lá para fazer uma reportagem a respeito de outro carro raro, um Talbot DC 1923 que acabara de ficar pronto, após um longo processo de restauração.
O Alfa Romeo pertencia então ao mesmo proprietário do Talbot, o francês radicado no Brasil Benoit Carrier. Seria o próximo projeto e estava em estado deplorável. Quem via, imaginava ser um carro irrecuperável, como se pode ser nas fotos abaixo.
Sete anos depois, tivemos o prazer de reencontrar esse precioso automóvel em Águas de Lindóia, recuperado nos mínimos detalhes, graças ao trabalho cuidadoso de um restaurador de verdade, “das antigas”, autodidata, profissional há quase 50 anos.
ÁLBUNS DE IMAGENS
CHURRASCO COQUETEL NOITE ITALIANA
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Texto: Fernando Barenco
Fotos e edição: Fátima Barenco e Fernando Barenco
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